25
ago
2014

As eleições presidenciais de outubro no Brasil perfilam-se como um previsível duelo entre duas mulheres e já se fala das candidatas em “branco e preto”, não somente pela raça, mas por suas trajetórias, uma o contrário da outra.

As personalidades da presidenta, Dilma Rousseff, e da candidata socialista, Marina Silva, são uma espécie de assíntota de hipérbole, duas linhas que se aproximam sem nunca se encontrar. São de esquerda, mas de tonalidades diferentes. A primeira, mais da esquerda estatal, e a segunda, da esquerda verde.

Rousseff, branca, de origem europeia, queimou sua juventude na luta violenta contra a ditadura militar brasileira. Foi torturada e acabou abraçando os valores democráticos. Silva, negra, com sangue de escravos africanos e imigrantes portugueses, se forjou na luta política e social desde muito jovem ao lado do líder sindicalista e ecologista Chico Mendes, assassinado por sua defesa da Amazônia.

A presidenta vem da classe média alta. Estudou em escolas particulares de qualidade. Seu pai era um comunista búlgaro. Sua rival, também com a esquerda nas veias, foi alfabetizada aos 16 anos porque a pobreza familiar a obrigou a trabalhar como seringueira. As duas foram à Universidade e compartilham, além dos estudos, uma grande dignidade pessoal por não terem se manchado com a lama da corrupção.

De caráter forte, às vezes até duro, intransigentes, não mostram excessivos dotes ou talento para a mediação. São duas lutadoras. Tampouco são aptas para ficar em segundo plano. Estão permeadas pela ambição do poder. Não trabalham para serem simpáticas, e sim coerentes.

Marina Silva desperta mais atração entre os jovens, os eleitores com maior nível cultural e entre uma determinada faixa de mulheres pobres que admiram sua coragem por abrir caminho na vida, apesar da extrema miséria de sua infância.

Dilma Rousseff aparece, batizada por seu mentor, Lula, como a “mãe dos pobres”, a mãe do “Bolsa Família”. Em certos círculos, gosta que seja às vezes capaz de saber se impor mais do que os homens. A empresa e os mercados as veem com uma certa dose de desconfiança. Dilma, por ser considerada excessivamente estatal, e Marina por rechaçar a velha política de negociações, compromisso e arranjos, que é o que as bolsas preferem.

Existe um campo no qual as assíntotas não se encontram: a questão religiosa. Marina Silva é uma mulher fortemente bíblica. Foi católica, mas dos católicos da Teologia da Libertação, e hoje é evangélica. Dilma Rousseff milita mais no campo do agnosticismo, ainda que, em um país como o Brasil, necessite de vez em quando tomar um banho religioso.

As duas têm um medo terrível de viajar de avião. No duelo entre as duas esquerdas que está para ser disputado, Dilma chega com a força de um gigante Golias pelo peso da máquina do governo e Marina, como o pequeno Davi.

Dilma Rousseff precisa rezar para que, desta vez, a Bíblia não esteja certa.

Juan Arias
El Pais

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