Enquanto a Espanha espera um segundo ano de recuperação, o trabalho de conserto do presidente do governo Mariano Rajoy na quarta maior economia da zona do euro poderia estar apenas pela metade.
Embora uma estimativa do Banco da Espanha possa mostrar nos próximos dias que o país completou 12 meses de crescimento no último trimestre, esse relatório e os dados sobre emprego também revelarão quanto trabalho o primeiro-ministro ainda tem pela frente. A economia continua dependendo de exportações alimentadas pelo ajuste do país durante a crise da dívida, com apoio limitado da demanda doméstica.
Com uma eleição programada para o próximo ano, Rajoy pode se confortar com rendimentos de títulos perto de baixas recorde, uma recuperação que tem mostrado certa durabilidade e pesquisas que estão revelando que o crescimento da manufatura é o mais alto em sete anos. No entanto, boa parte da recuperação industrial que está impulsionando a economia depende de salários em declínio e de medidas do governo que ajudam as vendas de carros e as contratações, e não da inovação de produtos.
“Ainda não se sabe se a recuperação é sustentável”, disse María Yolanda Fernández Jurado, professora da Universidade Pontifícia Comillas de Madri, em entrevista por telefone. “Buscar competitividade através de custos menores de mão de obra acabará sendo contraproducente, a menos que haja um esforço para estimular produtos de maior qualidade e com tecnologia melhor”.
Expansão econômica
No segundo trimestre, a economia da Espanha provavelmente se expandiu 0,4%, um crescimento mais acelerado que a média da zona do euro durante dois trimestres consecutivos pela primeira vez desde 2007, segundo duas pesquisas da Bloomberg News publicadas na semana passada. A publicação dos dados oficiais do PIB está agendada para 30 de julho, embora o Banco da Espanha costume publicar sua própria estimativa antes e tenha prognosticado consistentemente a cifra correta.
O governo diz que o final de uma recessão de seis anos está dando impulso à criação de empregos, o que se reflete no crescente número de contribuintes para o sistema estatal de pensões. Contudo, espera-se que os dados sobre desemprego, que serão publicados em 24 de julho, mostrem que cerca de um quarto da força de trabalho continua sem emprego, perto do nível mais alto na história da democracia espanhola. Junto com as medidas de austeridade, isto tem afetado o gasto, pois o salário anual médio declinou 0,3 por cento desde 2010.
No mês passado, a fragilidade da recuperação levou o governo a aprovar um plano para injetar 11 bilhões de euros (US$ 15 bilhões) na economia mediante fundos privados, europeus e governamentais, bem como empréstimos a companhias. As medidas incluem 175 milhões de euros para prolongar um programa de estímulo à venda de carros pela sexta vez, elevando a soma total a 715 milhões de euros.
As vendas ao exterior têm crescido rapidamente desde 2010, desempenho que o governo de Rajoy atribui a uma melhoria na competitividade da Espanha, depois que uma reforma das leis trabalhistas, realizada em 2012, tornou mais fácil para as empresas reduzir salários e demitir funcionários. Fluxos recordes de turistas também reforçaram a economia.
‘Na UTI’
A frágil demanda doméstica é um obstáculo para as empresas que apostaram na inovação em vez de tentar concorrer com preços. Em Alicante, a Forest Chemical Group, fabricante de cola industrial que emprega 30 pessoas, diz que recorre a outros países europeus ou ao norte da África para vender sua cola concentrada de adesão rápida.
Em um país onde a construção e os serviços contribuem com 73% do valor agregado gerado a cada ano, o esforço em pesquisa e desenvolvimento é um dos mais baixos da região, totalizando 1,3% do PIB, frente à média de 2,1% da União Europeia. Enquanto o governo se concentrou em reduzir a quarta maior brecha orçamentária da UE e as empresas enfocaram a redução dos custos, o gasto em inovação caiu 8% desde 2010.
“A Espanha está recuperando a competitividade perdida; levará tempo para o gasto se recuperar”, disse Rafael Pampillón, professor de Economia da IE Business School. “Há uma melhoria – a renda está crescendo, a compra de casas está aumentando –, mas não se pode esperar que um paciente recém-saído da UTI coma uma paella”.