19
jun
2013

Era 1990 e o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte se encontrava em uma encruzilhada literária: escrevera 40 páginas do novo romance, mas já sabia que não produzia um grande trabalho. “Eu estava com 39 anos e descobri que me faltavam vivência, rugas, dores nos rins ao me levantar pela manhã, enfim, todos os dissabores de um homem de 60 anos, que percebe a vida desmoronando – esse era o perfil do meu personagem principal”, disse o autor ontem ao Estado, em entrevista por telefone desde Madri. “O passar do tempo me deu condições necessárias para escrever com segurança, além de me permitir fazer pesquisas úteis sobre moda, jazz, xadrez, tango.”

Tamanho cuidado não foi em vão: O Tango da Velha Guarda, lançado agora pela editora Record, é uma complexa e apaixonada trama em três atos, que revela dor e intrigas ao som caliente do tango, além de traçar um retrato da Europa nos anos 1920, 30 e 60. Tudo começa com a viagem de navio do famoso compositor Armando de Troeye a Buenos Aires. Ao lado da bela esposa Mecha Inzunza, ele carrega, na mente, um tango inacabado. Durante a travessia, conhece Max Costa, um dançarino nascido nos subúrbios portenhos, homem marcado pela profunda ambição e pelo desejo de romper com as convenções.

“O tango é a forma musical mais plástica para se mostrar o sexo entre um homem e uma mulher, vestidos e na vertical”, comenta Pérez-Reverte. “Por conta disso, eu me dediquei muitas horas na escrita, caçando adjetivos e advérbios certos, buscando moldar o diálogo do romance até chegar à mesma sensualidade no ritmo das palavras.”

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